06/04/2017 webmaster
Meu nome é Andrio Robert Lecheta, recém-formado no curso de Produção Cênica da UFPR, tenho 25 anos e moro na cidade de Mandirituba, uma pequena cidade da região metropolitana com cerca de 24 mil habitantes.
Trabalhei com meus pais na roça desde os meus 6 para 7 anos. Neste perÃodo estudava na Escola Rural Municipal Antônio Ivainski, no meu bairro Campestrinho. A turma era multisseriada e a professora era minha tia. No contra-turno escolar trabalhava na produção de legumes e verduras para o CEASA – Curitiba. Aos 14 anos comecei a trabalhar com jardinagem, prestando serviço para vizinhos e familiares. Nesta época eu já estava no Colégio Estadual Joaquim de Oliveira Franco, sem muita perspectiva do que poderia fazer ao concluir o Ensino Médio. Isso pelo fato de que no interior não nos restam muitas escolhas além do trabalho em áreas que não exijam formação e muitas vezes na informalidade, sem nenhum direito garantido.
Aos 16 anos conclui o Ensino Médio, todos os meus estudos haviam sido no ensino público. Deparei ali com a frustração de não ter condições financeiras para uma faculdade privada e o medo de não ter capacidade para entrar numa universidade pública. Foi então que em 2011 encontrei na lista de cursos da UFPR a graduação em Produção Cênica. Por trabalhar com produção teatral amadora em igrejas, encontrei ali um caminho para o futuro. A aprovação veio na primeira tentativa e a partir dali um sonho começava. Mesmo tendo que fazer o caminho Curitiba-Mandirituba todo dia, ir e voltar, acordar à s 6:30 da manhã, trabalhar o dia todo, estudar a noite toda e só chegar em casa novamente à 1:00 da manhã, eu havia encontrado ali a possibilidade de mudar a minha vida e também a da minha famÃlia.
A partir do momento em que coloquei o pé dentro da universidade em 2012, eu não perdia nenhuma chance de ter mais do que só uma graduação. No primeiro semestre já ganhei um concurso que me trouxe uma bolsa de Produção Cultural numa parceria entre o curso de Produção Cênica e a Quixote e Art, no segundo semestre comecei a preparação para seleção de intercâmbio. No primeiro semestre de 2013 fui aprovado com bolsa através da Agência UFPR Internacional para realizar intercâmbio em Cinema na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa (Portugal). Uma nova fase, uma nova etapa da minha vida, mais um sonho realizado. Até o dia de realmente sair do Brasil eu não conseguia acreditar que o garoto da roça, da escola pública, estava indo para Europa estudar.
A Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias me convidou para permanecer mais um semestre e com autorização da UFPR permaneci. Pude conhecer a França, a Espanha e diversas cidades portuguesas. Tive filmes que trabalhei na universidade como ator, figurinista, roteirista e performer exibidos na Espanha, Eslovência e Itália. Durante o segundo semestre do intercâmbio me inscrevi numa competição produzida pela EXPO MILÃO 2015 e 9º Festival de Cinema de Roma, com um vÃdeo sobre alimentação, miséria e vida no planeta. O meu vÃdeo foi o mais votado no categoria internacional, concorrendo com dezenas de paÃses e assim que meu intercâmbio acabou e voltei para o Brasil, os organizadores me convidaram para ir à Itália representar a Universidade com tudo pago, participar do festival e da sessão de exibição do meu vÃdeo, junto com outros vencedores e representantes da embaixada brasileira em Roma. Posteriormente meu vÃdeo ficou numa gigante instalação na porta principal da EXPO MILÃO 2015 por onde passaram mais de 20 milhões de pessoas durante o evento todo.
No retorno da viagem fui homenageado com honra ao mérito, como aluno destaque na categoria discente 2014, nas Solenidades de 102 anos da UFPR na Reitoria, devido ao meu desempenho no intercâmbio. No ano seguinte fui aluno bolsista do Programa de Iniciação à Docência sendo monitor na disciplina de conclusão de curso de Produção Cênica. Foi a partir daà que a vontade pelo trabalho na educação começou a se despertar. No mesmo ano fiz parte do Carmen Group – Centro De Treinamento em Arte, Movimento e Encenação, um grupo que surgiu de uma disciplina do curso e nos proporcionou a possibilidade de um miniturnê regional com 14 apresentações do trabalho teatral/performático Carmen. Ainda faço parte deste grupo que já dura 2 anos e se prepara para sua segundo produção.
Em 2016 surgiu a vontade pelo mestrado, foi então que comecei ir a congressos, jornadas e eventos. Tive apoio financeiro recente da UFPR para participar do IX Congresso da Abrace na Universidade Federal de Uberlândia, apresentando trabalho teórico sobre o espetáculo Carmen no qual fui ator/performer. Apesar do sonho do mestrado parecer impossÃvel, resolvi me dedicar, pois eu já tinha conseguido tantas coisas que para um menino da roça eram impossÃveis que não custava tentar outra vez. Fui aprovado na 1ª fase de prova escrita, depois aprovado na banca de análise de projeto e agora em abril iniciarei meu Mestrado em Educação na UFPR, na linha de Cultura, Escola e Ensino com um projeto que se propõe a estudar o homem do campo na teatro universitário. Ou seja, estudar a trajetória de outros rapazes que tiveram uma história parecida com a minha: saÃram do interior, para estudar teatro na cidade grande.
Sou grato à UFPR por tudo o que vivi desde que passei no vestibular. Tive muito apoio do setor de Comunicação com entrevistas e postagens nos portais da UFPR, na época do festival italiano. Fiquei muito emocionado com a homenagem de Honra ao Mérito – Aluno Destaque 2014, pois senti que eu não era um número apenas para universidade, mas que estávamos juntos traçando uma história. Uma nova história de inclusão, acesso à arte, cultura, conhecimento, reflexão, debate etc. Minha entrada na Universidade foi por cota social, pois sempre estudei em escola pública. E agora o Mestrado só me traz a vontade do Doutorado e a necessidade de voltar para a UFPR como professor, podendo agradecer um pouquinho de tudo o que essa instituição trouxe para a minha vida.
Hoje sou professor de teatro em uma Academia de Dança e Arte em Mandirituba e estamos começando uma nova fase das produções artÃsticas e culturais na cidade, dando acesso à arte e cultura para nosso povo que não consegue chegar à s produções culturais curitibanos por questões econômicas e sociais. Com isso também devolvo à s minhas raÃzes tudo aquilo que conquistei e devolvo para a sociedade todo o conhecimento que esses anos de UFPR me trouxeram.
SUCOM (#VALORIZA UFPR)
Tags: depoimento, mobilidadeMARCA: Edital de Seleção Discente (Curso de Agronomia) para saÃda em 2025/2.
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